Iago, o cozinheiro
O restaurante
era na área central da cidade com boa localização, credibilidade e boa
clientela. Iago, ainda jovem, ingressou lá como sempre sonhou - ser um bom
cozinheiro, reconhecido pelos seus cardápios.
Ele
lavou pratos, varreu o chão, foi garçom e, finalmente, assumiu uma função de cozinheiro.
O restaurante servia churrasco e buffet, o cozinheiro tinha sucesso em todos os
pratos que fazia, foram anos e anos no mesmo restaurante, fazendo todos os
cardápios e tendo imenso reconhecimento.
Os
proprietários deste restaurante já estavam há anos preparando a abertura de um
novo, no mesmo prédio, porém com um cardápio diferente - servir sushi, isto
mesmo, comida japonesa.
Então
certo dia Iago fora convidado para auxiliar na montagem do novo restaurante,
mas para isso teria que passar alguns dias em outra cidade de onde eram criados
os cardápios. Então lá se foi Iago, como sempre muito fiel aos seus comandantes
e disposto ao novo desafio, agregando sua experiência na cozinha do antigo
restaurante às novas ideias que iria encontrar na grande cidade.
Iago
retornou cheio de ideias novas, receitas de como se comportar diante de um novo
jeito de cozinhar, apenas repetindo os pratos que vinham com a receita pronta,
como sempre ele, apesar de não ter passado mais do que uma semana no exército,
era muito disciplinado e seguia a risca a nova receita.
Montou
o cardápio local, visitou seus antigos clientes, conquistou velhos e novos
apreciadores de seu trabalho, construiu um elo entre seu nome e o novo restaurante,
sendo agora o Iago do Sushi, como sempre era anunciado em algum local em que
era apresentado.
O prestígio
de Iago como soldado exemplar, disciplinado continuou com um novo chef de
cozinha, que também havia passado pela escola onde faziam o cardápio do sushi,
porém mais ousado e com mais liberdade de agir que Iago executou a receita que
Iago sabia que existia, mas não tinha a autonomia de fazer.
Mesmo
assim Iago se tornou o fiel escudeiro do chef do restaurante, seguindo como
sempre a execução das tarefas com a máxima excelência que a sua experiência e
formação lhe davam. Aliás, buscou mais conhecimento, além de ser um bom
cozinheiro reconhecido do restaurante antigo e agora do novo, com sushi, Iago
se aperfeiçoou em outro segmento, onde aprendeu muito e começou a gostar da
atividade, porém, nas suas veias corria o sangue de cozinheiro, que era o que
ele mais sabia fazer, embora também tivesse se encantado com a nova
oportunidade que lhe surgia em outro setor.
Passaram
poucos anos mais e o chef partira para outros desafios, deixando Iago como seu
indicado para assumir como chef no restaurante de Sushi e no antigo restaurante
de churrasco e buffet, pois conhecimento não lhe faltava, aliado com sua
obediência e fidelidade aos empreendedores dos restaurantes.
Iago
não foi chamado para ser chef do restaurante, mas isto não lhe desmotivou,
continuou na função de cozinheiro, porém outros restaurantes estavam agregando
clientes aos seus cardápios, o sushi era consumido, mas sem as ações de inovar
nos temperos, apesar de Iago saber como fazê-lo, mas sem a autonomia para mudar
algo no restaurante, o restaurante de sushi e também o de churrasco e buffet,
que tinha um jovem cozinheiro, porém também sem muitas possibilidades de mudar
os temperos, foram diminuindo a clientela, que começava a optar também por
pratos mais populares e simples, sem muitos padrões nas suas receitas, mas que
atraia seus clientes, alguns por curiosidade, outros por diversos motivos.
Os
cozinheiros dos restaurantes onde Iago trabalhava há mais de duas décadas
alertavam, quase que diariamente aos seus superiores das dificuldades que
estavam enfrentando, das mais diversas, internas e externas. Até que os donos
dos restaurantes decidiram buscar um novo chef de cozinha para os dois
restaurantes, um ex-cozinheiro, também com experiência de cozinha e com muitas
receitas já usadas em muitos restaurantes brasileiros por várias décadas.
Iago
entrou em recesso, seu colega cozinheiro do restaurante mais antigo saiu para
outro setor da economia, coisa que já anunciava a Iago há vários meses e o fato
veio a se concretizar. As receitas que Iago tinha, já havia usado, sabia como
fazer, mas não tinha a liberdade e autonomia em mudar os temperos e cardápios,
trazendo temperos bem simples e fáceis de encontrar, usando coisas da própria
horta e não seguindo mais o que dizia que restaurante de sushi seria para
oferecer somente sushi e que churrascaria e buffet não teria pratos antes quase
exorcizados naquele cardápio, agora faziam parte do dia-a-dia dos restaurantes.
Quanto
a Iago? Bem, Iago tem o sangue de cozinheiro nas veias, diz que não somente vestiu
a camisa do restaurante como a tatuou em seu corpo, então Iago quer voltar a
cozinhar sim, porém ele também quer se dedicar a sua outra formação, a de
garimpar, buscar pedras preciosas que existem no coração de cada pessoa, mostrando
assim como elas têm um grande brilho em seus interiores, o quanto de joia está
escondida em suas entranhas, em seus mais lindos e loucos sonhos.
Iago
continuará sendo um cozinheiro, se o restaurante ainda o quiser para isto e,
também será um garimpeiro. Garimpeiro das joias da sabedoria que todos têm.
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