O Auto de Inês Pereira e a relação
com a contemporaneidade
A verossimilhança que Gil Vicente expõe
em sua obra de 1523, O Auto de Inês Pereira, com os
acontecimentos contemporâneos da humanidade, em especial ao gênero feminino são
muito evidentes. A pouca valorização da mulher em detrimento ao homem é fato consumado
em diversas épocas e, não se difere nos séculos mais recentes, pois as
profissionais que exercem as mesmas funções que os homens recebem soldo menor
por seu labuto, embora por muitas vezes mais qualificadas e sensíveis às
alterações e progressos que as diversas atividades profissionais exigem.
Se Inês vivia a lavrar e a exercer
diversas atividades em sua moradia tendo que encontrar somente uma válvula de
escape um casamento arranjado para exercê-lo como forma de fuga da realidade
vivida, não diferente é em algumas situações onde as filhas são usadas como
serviçais da casa e, para que isto tome um rumo diferente elas são absorvidas
pelas mazelas da sociedade, o que lhes causa na maioria das vezes muita dor e
sofrimento, pois partem para uma competição com os homens no mercado de
trabalho onde ainda são menos valorizadas, principalmente quando se trata de
mulheres de baixa renda.
Os interesses materiais perduram por
séculos se sobressaindo num revés da valorização humana e ao próprio cuidado
com a vida, tema este discutido muito neste ano, principalmente na igreja
brasileira.
Daí, vem em seguida o desencanto com
algo que era um sonho de liberdade, a vida à dois pode não ser melhor do que a
outrora vida de solteira, a submissão antes à família, nos casos de hoje
cuidando de irmãos menores e tomando conta da casa e, passa a ser uma submissão
ao marido ou companheiro que por sua vez impõe tarefas e, mesmo que a mulher
busque seus rendimentos além das atividades domésticas do lar, o peso dobra sobre suas costas, pois
o cúmulo de funções dentro e fora de casa as torna mulheres, muitas vezes
depressivas e extremamente exaustas, o que as leva a novas desventuras e um
abraço envolvente com a desilusão.
As Inês Pereira deste século ainda perduram, ainda clamam por
reconhecimento e ainda buscam os valores que ora perderam, a figura da
submissão, da pessoa desencantada com a vida que leva tem gerado, ao longo dos
anos contemporâneos, diversos desdobramentos na vida das mulheres das
diferentes nacionalidades e classes sociais, tudo isto resulta em casos
semelhantes aos que a ficção de Gil Vicente expôs em 1523 , pois as mulheres
frustradas e desencantadas acabam por trair seus maridos na busca de algo que
as complete e de algo que as equipare do gênero masculino, diante da sociedade.
As mulheres contemporâneas buscam
não somente o companheiro do sexo oposto mas também outras mulheres que
supostamente, se enamoram por elas devido à desilusões já sofridas com seus com
homens ou que possam trazer consigo o conhecimento de outras desiludidas e já
crescerem com esta aversão ao homem, figura que traz consigo a carga histórica
de dominador e exterminador de sonhos femininos pois, principalmente com o
advento da imprensa livre, as atrocidades contra as mulheres passam da ficção e
afloram nas manchetes dos principais meios de comunicação, indo além da
clausura de Inês Pereira foi vítima em seu primeiro casamento, chegando até
mutilações, como o caso de Maria da Penha, personagem real que inspirou Lei
Federal de proteção às mulheres e que leva seu nome.
Inês
Pereira nada mais foi do que uma personagem protagonista de um auto de Gil
Vicente, dramaturgo do Humanismo da Literatura Portuguesa, ela foi um marco na literatura
relacionando a personagem às moças solteiras da época e, em seguida às senhoras
casadas, as Inês Pereira de hoje são
muitas e ainda existem, enquanto a busca da plena felicidade feminina persistir
haverá a frustração, a desilusão, o desencanto e a perda de valores.
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