VIDAS PROVISÓRIAS
Os personagens
O livro conta as vidas de vários personagens que se vêem fora de sua
terra natal, levados por diferentes motivos, mas sempre buscando a realização
de seus sonhos, ou de pelo menos terem vidas mais dignas que em sua terra. Mas
nem sempre estas válvulas de escape, ou até mesmo de fuga são no mínimo
melhores do que o habitat que eles tinham em seus países dede origem.
Paulo e Bárbara,
separados no tempo e na geografia, compartilham além da experiência do exílio o
estranhamento pela perda de suas identidades, o isolamento e a sensação de
interrupção do curso normal de suas vidas. Paulo, perseguido e torturado pela
ditadura militar, é preso e abandonado sem documento na fronteira de onde em
1970 vai até o Chile e depois para a Suécia.
Bárbara, com uma identidade falsa sai do Brasil em 1991 durante o
governo Collor, fugindo da violência e se instala nos EUA de forma ilegal, como
muitos brasileiros que lá vivem.
Na Suécia, Paulo de apaixona e forma
família com Anna, que milita na Anistia Internacional. As lembranças do passado
sofrido de Paulo o perseguem, devido ao grande trauma que viveu.
À América, Bárbara, chegou ainda adolescente e teve de deixar seus
sonhos de entrar na Universidade para trás, precisou como clandestina, fazer
faxina, ser manicure e sem falar o idioma americano conviveu com outras
mulheres fáceis brasileiras e acabou vivendo uma paixão impossível.
Bárbara anônima, Paulo encontrando um
amor
Bárbara não passava de mais um rosto anônimo e estrangeiro na multidão,
sem se integrar ao país que escolheu habitar. Quanto a Paulo, ele vive em um
momento forte na história do Brasil, o inicio do regime ditatorial militar que
comandava o Brasil em seu tri-campeonato mundial de futebol, impulsionado por
um presidente fascinado pelo esporte e pela música ufanista que celebra a
fertilidade do seu país – “90 milhões em ação, pra frente Brasil, salve a
seleção” - Paulo lembrava a Anna momento do que era o Brasil que tivera que
deixar para trás forçado pela Ditadura Militar, já na Suécia encontrara Anna
com quem conversava longamente sobre sua vida no Brasil, desde a infância
quando com 12 anos junto com seu melhor amigo Eduardo, tropeçou sobre o corpo
de uma mulher morta, vitima da repressão na ditadura, não sabendo que
futuramente ele seria uma vitima do novo regime que lhe tirou até o nome, pois
agora, na Suécia, depois do Chile onde passou, seu nome era Nélson.
Em “Vidas Provisórias” o autor relata a cada dois pares de páginas
trechos das vidas que Bárbara a jovem de 17 anos, saída de uma vida pobre e
transtornada na periferia de São Paulo; Paulo, um estudante de direito abduzido
de seu apartamento pelos militares ficando sem a identidade nata, passando a
ter um codinome m outras pátrias que não a sua.
O amigo de Bárbara em Nova York, onde estava desde que fugiu de Newark,
porque a polícia iria fazer buscas para extraditar estrangeiros - Sílvio um
quase moribundo para quem Bárbara fazia limpeza do apartamento do hospital duas
vezes por semana, depois de algum tempo sendo exterminado por sua doença e
acabou partindo e Bárbara tomou posse do local.
Nélson, agora assim chamado, construiu uma família com a sueca Anna, a
qual teve um filho que chamou de Eduardo, seu melhor e único amigo de infância.
À Anna, Nélson contava tudo, de seus medos, de sua infância e do terror que
viveu quando foi preso torturado pelos militares em 1970.
Paulo, ou Nélson teve após aberto o regime pelo presidente Figueiredo
oportunidade de voltar ao Brasil, mas Anna, grávida precisava repousar e ficar
na Suécia, tendo então seu segundo filho de Nome Joseph.
Barbara após anos em Nova York continuava na cidade, sem expectativa de
melhora de vida, ou de até mesmo voltar à São Paulo, de onde saíra, morava em
um prédio habitado por estrangeiros de várias nacionalidades.
Depois, a convite da UNESCO Paulo foi à França, onde seus filhos
frequentavam a escola e Anna trabalhava na Anistia Internacional Francesa.
Bárbara ficava somente em seu apartamento rodeada de vizinhos
estrangeiros, a sua maioria latinos, às vezes recebia a visita de uma amiga que
conhecera tempos atrás, a quem fazia suas confidências. Entre discussão e
questionamento sobre sua identidade com as mulheres a quem Bárbara faz limpeza
em seu apartamento, viam na TV o noticiário do atentado ao World Trade Center,
as torres gêmeas.
Paulo, já em 2000, continuava suas viagens pelo mundo atribulado, em
missão da UNESCO e Anna estava com os filhos de volta à Suécia.
Na vida de Paulo a história de conflitos mundiais
No livro “Vidas Provisórias” nas passagens de Paulo pelas mazelas das
nações em guerra, percebe-se que o autor faz um repasse por fatos históricos e
políticos de locais como o Oriente Médio, as ditaduras do Brasil e Argentina,
do final dos anos 60 até os anos 2000, com guerras e ataques a civis, sempre
com a interferência dos governos americanos nos episódios narrados.
Enfim, Bárbara encontra um sentido
pra viver na América, conhece o filho de Paulo
Em Nova York, Bárbara chega a mais uma limpeza de apartamento que faria
nestes anos em que está nos EUA. Quem lhe atende é um rapaz magro e moreno com
sotaque que misturava o português com outra língua europeia; ela estava pela
primeira vez, depois que chegara à América sentindo algo que poderia ser amor.
Ele fez sua breve e simpática apresentação e ao final completou – “Meu
pai é brasileiro, era exilado e trabalha na UNESCO. Minha mãe é sueca e meu
nome é Edward Waltray Antunes.” - O destino unia ali, Bárbara refugiada na
América em vontade própria, buscando uma vida melhor quando ainda era
adolescente e, o filho de Paulo, torturado, preso e exilado por intermédio da ditadura
militar brasileira. Ambos os frutos de “Vidas Provisórias”.
Faço a recomendação aos leitores para que realizem a leitura deste, que é o
segundo livro do autor, é um relato que nos remete aos sofrimentos de duas
pessoas diferentes em espaço e tempo, mas que o destino cruza suas vidas de
forma incrível e indireta. Faz-te viajar pelos diversos países onde Paulo e
Bárbara percorrem na trama.
O autor
Edney Silvestre nasceu em Valença no
Estado do Rio de Janeiro, em 1950, jornalista de longa carreira se destacou na
cobertura aos ataques aos 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos para a Rede
Globo - Quando era correspondente em Nova York, é apresentador do programa
GloboNews Literatura.
Por:
Gilberto Machado - Acadêmico do curso de Letras – Português e
Espanhol da FURG
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